sábado, 7 de julho de 2007

NO SILÊNCIO DA PRECE



Ora comigo, alma inquieta, em silêncio,
abrindo a boca sem voz de teu coração, e dize:

Eu te adoro, Construtor das estrelas,
e deslumbro-me na luz dos olhos faiscantes delas,
por onde me vês.

Contemplo o mar e, no seu vozeirão,
escuto Tua boca poderosa soprar nas ondas nervosas,
que se despedaçam receosas nas areias brancas.

Ouço os ventos,
e entendo a linguagem andante de Teu poder.

Oh! clara manhã,
afoga minha noite nos teus olhos de luz!

Oh! gota d’água,
umedece os lábios queimados da minha indignidade,
para chamar pelo meu Senhor!

Oh! amor, rompe, rompe meu peito,
com suas adagas e floretes,
para que Seu grande Amor vença minha infinita
pequenez, mergulhada nas águas turvas dos meus erros!

Ora assim, coração, em silêncio de fora
e em cântico por dentro, no Templo da Natureza,
onde Ele reside!...

Deixa-me adorar-TE, Senhor.

Do meu sacrifício ofereço-Te a lira partida do meu
coração que ainda guardo comigo.

É a última oferenda que a vida me fez: uma lira de versos,
cantando vibrações de amor que a sepultura não me roubou.

Muitos Te oferecem mirra desde há muito...

Outros Te presenteiam ouro e incenso...

Desde as primeiras doações sorriste, indiferente, e
tomaste uma cruz em que Te imolaste.

Deixa-me adorar-Te, Senhor.

É tão profunda a minha afeição e tão sublime o meu
amor que, dando a lira ofereço-Te a mim mesmo.

Recebe minha oferta.

Rabindranath Tagore - (De: “Filigranas de Luz”, de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Rabindranath Tagore).

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